sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Favor notar


O referendo para a liberalização do aborto está ferido de várias iniquidades monumentais, uma das quais passo a relevar. A pergunta, lembra-se, tem a seguinte redacção: “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?” (realce meu). Ora, pergunta-se, e se o pai de um nasciturno se opuser ao aborto? Não deveria considerar-se esse posição tão válida como a opção que se quer conferir à mulher? Deixo aqui duas vertentes que, quanto a mim, demonstram esta tremenda injustiça.


Aspecto biológico da concepção


Socorro-me de um texto publicado por Bernardo Sanchez da Motta, Argumentário contra o direito ao aborto (versão resumida), e que pode ser encontrado em http://www.espectadores.blogspot.com, bem como a versão completa: «A vida de um ser humano principia com a concepção, cujo “momento zero” se define de forma segura com a singamia, a fusão do material genético humano (o núcleo de 23 cromossomas do espermatozóide e o núcleo de 23 cromossomas do óvulo) no núcleo diplóide que dá pelo nome de “zigoto”; esta definição de “vida humana” é a corrente em qualquer manual contemporâneo de Medicina e não depende de quaisquer considerações acerca da definição ética de “pessoa humana”» (p. 18, realce meu).


Desta constatação ressalta claramente que a criança por nascer é produto, em igual parte, de pai e de mãe, o que lhe confere intrinsecamente a pertença natural a dois progenitores. Em linguagem mais vulgar, o zigoto/embrião/feto é metade mãe e metade pai. Deixar à decisão discricionária da mãe o aborto é cercear ao pai o seu direito de poder querer que o que é tanto seu como da mãe venha ao mundo.


A orientação societária


A paternidade representa o continuar da espécie, mas é acima de tudo viver momentos únicos de felicidade, realização, dever cumprido, abnegação, equidade, partilha, amor. E se olharmos de modo amplo, não há família, religião, organização, ideologia, partido, movimento, comunidade, constituída por pessoas sérias, que não pretenda para os seus estas metas. Então é uma questão de simples coerência: como pode alguém (mulher) não permitir que outrem (homem) realize os seus sonhos, esses que fazem parte dos objectivos gerais das sociedades?


«O rapaz, pressentindo que se vai tornar num homem, nutre uma admiração especial pelo pai, vê-o como o homem mais sábio, rico e poderoso do Mundo[...]» (Benjamim Spock, Um Mundo Melhor para os Nossos Filhos, Difusão Cultural, p. 97). E então, o pai é o homem mais feliz do mundo!


E não acredito que uma mãe, nessa altura, não o seja também!

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