sábado, 10 de março de 2007

Noé da Silva

Mais um roubo descarado à Gotinha. Qualquer dia pede-me royalties...

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Um dia, o Senhor, chamou Noé da Silva e ordenou-lhe:

-"Dentro de seis meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Portugal seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal. Vai e constrói uma arca de madeira".

No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu.

Noé da Silva chorava, ajoelhado no quintal de sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar, furiosa, entre as nuvens:

-"Onde está a arca, Noé?"

-"Perdoe-me, Senhor" - suplicou o homem. "Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas.

Primeiro tentei obter uma licença da Câmara Municipal, mas para isto, além das altas taxas para obter o alvará, pediram-me ainda uma contribuição para a campanha da reeleição do Presidente da Câmara...

Como precisava de dinheiro, fui aos bancos e não consegui empréstimos, mesmo aceitando aquelas taxas de juros. Afinal, nem teriam mesmo como me cobrar depois do dilúvio.

Depois veio o Corpo de Bombeiros e exigiu um sistema de prevenção de incêndios e alguma ajuda para a compra de uns helicópteros, mas consegui contornar, subornando um funcionário. Começaram então os problemas com a extracção da madeira, nas áreas ardidas. Eu disse que eram ordens "Suas" mas eles só queriam saber se eu tinha "projecto de reflorestamento".

Neste meio tempo, a Quercus, descobriu também uns casais de animais guardados no meu quintal. Além da pesada multa, o fiscal falou em "prisão inafiançável" e acabei por ter que matar o fiscal, pois para este crime a lei é mais branda.

Quando resolvi começar a obra, apareceu a fiscalização que me multou porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção. Depois, apareceu o Sindicato exigindo que eu contratasse os seus marceneiros que ficaram desempregados com este Governo e com garantia de emprego por um ano.

A seguir vieram as Finanças, acusando-me em "sinais exteriores de riqueza" e também me multou.

Finalmente, quando a Secretaria de Meio Ambiente pediu o "Relatório de Impacto Ambiental" sobre a zona a ser inundada, mostrei o mapa de Portugal. Nessa altura quiseram-me internar num hospital psiquiátrico!"

Noé da Silva terminou o relato chorando mas notou que o céu clareava.

-"Senhor, então não vais mais destruir Portugal?"

-"Não!" - respondeu a voz entre as nuvens - "Pelo que ouvi de ti, Noé, cheguei tarde! Alguém já se encarregou de fazer isso!"

4 comentários:

joaquim disse...

O problema é que esse alguém fomos/somos nós!!!
Sabemos que está mal, mas falamos, falamos e realmente não fazemos nada!!!
Abraço

Anónimo disse...

Joaquim, é bem verdade que nos queixamos pouco, mas tenho vistos situações completamente inacreditáveis no Portugal burocrata...

Gotinha disse...

Hoje é "Qualquer dia". Venho cá pedir royalties..
;-)

Anónimo disse...

Vou ter que me endividar...